mardi 25 mars 2008

so shakespeare salva

O professor Harold Bloom escreveu isso num livro chamado Onde Encontrar Sabedoria.
Eu acrescentaria que Graciliano salva tambem...

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948

K.

O inverno ainda nao acabou

E eu estou começando a ficar cansada do frio...
Ahf

K

dimanche 23 mars 2008

Provocaçao


A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado pelo chão.

A
segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.

Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.

Foram
lhe provocando por toda a vida.

Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas lhe tiraram a roça.

Na
cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.

Queria
um emprego, conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, entrando em fila. E a ajuda não ajudava.

Estavam
lhe provocando.

Gostava da
roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.

Ouvira
falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.

Terra era o que não faltava.

Passou
anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.

Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. não estava mais disposto a aceitar provocação.

ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.

Na
décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:

-
Violência, não!

Luís Fernando Veríssimo


K.


mercredi 19 mars 2008

O frances do Quebec

Faz tempo que eu queria falar sobre isso mas eu ando numa correria, hoje sobraram alguns minutos entre o meu banho e o café da manha... depois de um longo see you later pro baby boom.
Tem muitas coisas estranhas com relação ao frances do Quebec, primeiro a relação ambígua que os próprios quebequers tem com sua lingua: orgulho e vergonha ao mesmo tempo. Explico. Os quebequers têm um orgulho enorme de terem conservado a lingua francesa na América do Norte, e lutam com unhas e dentes ( nao so no figurativo aqui) pra perpetuarem essa tradição que é também a identidade do quebequer (juntamente com a questão climática!). Porem, ao mesmo tempo, eles tem uma certa vergonha do frances que falam, do sotaque, dos neologismos, dos anglicismos.
É interessantíssimo esse fenômeno!
Quando eu vou pra casa dos meus sogros, se eu insisto em falar como eles falam eu escuto logo em seguida: ah, nao fala assim nao, a gente fala muito errado...
Mas o frances do Quebec tem grandes influencias parisienses do século XV, e também da Normandia do mesmo período. Depois que a França desistiu do Quebec, outras influencias linguísticas começaram a tomar lugar, a dos nativos e a dos ingleses, mas esta ultima muito mais na questão da estrutura da frase que na adoção das palavras propriamente dita.
Outra coisa interessante é que a constituição federal diz que o Canada é um pais bilingue, mas o Quebec nao assinou essa constituição e aqui a constituição diz que o Quebec é apenas francófono, nada de bilinguismo aqui nao! Pois é, varias coisas estranhas... eu diria...
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O imigrante que chega aqui sem falar frances recebe uma ajuda do governo pra estudar a lingua, em cursos intensivos ou parciais que sao muito bons. Pode parecer estranho essa ligeira tensão que existe entre os francófonos e os anglófonos aqui no Quebec (digamos que os francófonos estejam mais preocupados que os anglófonos), mas as aulas ajudam a entender um pouco dessa tensão...
Mas enfim, falar frances vale a pena, e a gente ainda contribui pra felicidade dos quebequers, nao custa nada fazer alguém feliz!
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No mais, fui ontem ver The other Boleyn girl, que conta a historia da Ana Bolena, muito bom o filme... mas nao chega a ser assim um super filme...
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To gripada, ta nevando, e eu nao quero ir hoje. Mas eu deveria ir.

K

jeudi 13 mars 2008

Habs x Devils, o primeiro jogo de hockey a gente nunca esquece!!!!


Guillaume tava passando muito mal, mas ate o final da noite ele melhorou e fomos ao jogo de hockey, habs contra New Jersey.
Cara, que emoção!!!!!!! A gente ficou bem pertinho do vidro, nossa, foi muito legal! Aprendi tudo quanto é tipo de palavrão em frances! rs, foi divertido.
No final ganhamos de 4 a 0, e agora eu quero ver todos os jogos ao vivo... mas é caro, e nem tem mais tickets pra essa temporada.
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O inverno continua firme e forte, muita neve ainda nos espera ate o final de março... mas agora ta no final, abril ta chegando e com ele a primavera!
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E hoje é dia de lost, my gosh...
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Eu escrevo no futuro um post sobre algumas questões políticas interessantes que andam ocupando meus pensamentos ultimamente... acho que no domingo sobra um tempinho pra curtir meu blog, e meu diário de papel...
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K


dimanche 9 mars 2008

Um almoço na Mongólia e a tempestade do ano

O final se semana foi muito bom. Encontrei queridos amigos no quartier chinois e fomos almoçar num restaurante de comida típica da Mongólia... Quem escolheu foi a Ju, que foi levada la uma vez pelo Tim, namorado dela...A experiência foi interessante, mas pra quem nao come carne era meio complicado... o local servia fondue, com muita muita carne, e alguns peixes e vegetais... O peixe era na verdade polvo... nossa, eu basicamente comi um tentáculo inteiro sozinha (rs!!!!).
Julia ficou meio chocada quando descobriu que o que ela estava comendo aos bocados era intestino de bode... rs, foi divertido ver a cara dela... (experiências antropológicas... ai ai ai )
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Na sexta o povo da francisaçao foi todo pra Cabane a sucre, dançar danças típicas do quebec e apreciar o syrop de erable, e tudo que se pode cozinhar com tal iguaria... foi muito bom ver todo mundo feliz dançando, rindo, comendo... Quando as aulas acabarem eu vou sentir falta.
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Mas nem tudo foi assim tao bom. Tivemos uma enorme tempestade de neve no sábado... mas assim, enorme mesmo, de nao dar pra ver um palmo na frente do nariz. Metros e metros de neve acumulados pelas ruas, nossa, o cenário era caótico... céu vermelho, vento, cidade vazia obviamente... Guillaume diz que ainda podemos ter mais uma tempestade antes de acabar o mês, ahf...
E ja mudamos pro horário de verão, mas verão mesmo ainda ta longe, se é que chega.
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O dia tava muito claro, eu sai pra caminhar na neve sem óculos de sol, agora to com uma enorme dor de cabeça, enorme... ( eu ando com vontade de falar baita pra tudo que é grande, tipo, ao invés de escrever enorme dor de cabeça, eu queria mesmo era escrever baita dor de cabeça... mas anyway...).
Sai pra encontrar a Julles, mas fui pra livraria errada. Sem cel, fiquei la esperando horas. A dor tava chata demais, voltei pra casa ficar com o marido lindo, que tinha feito janta linda com velas e tudo mais.
Esse homem é um sonho.

Eu nao quero acordar!!!

K

samedi 8 mars 2008

soninho

Esse negocio de ter insônia dia sim dia nao ta me deixando muito cansada...
De qualquer forma, pra matar saudades do brasil nada melhor que mousse de maracujá.

K

dimanche 2 mars 2008

Montreal en Lumière e LOST

Old Port, sorvete BananaChunk do Ben and Jerry's



Então teve o festival Montreal en Lumière, e teve muita muita coisa rolando ontem a noite em toda a cidade. No inicio eu fiquei meio intimidada com o frio, mas passou logo e valeu a pena. Assistimos aos fogos de artifício no old port, depois filme e apresentação de dança. A noite acabou com um café da manha la na Place des Arts, com todo mundo que aguentou a noitada acordado prestigiando a programação.
As fotos sao de hj de manha, tiradas durante uma caminhada com Baby Boom.
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Sobre o Lost, nossa, será que alguém percebeu que a música de fundo era a mesma de Xanadú? Com o vocal de Olivia N. John... os caras sao mesmo muito bons, pq em casa episódio tem um detalhe que remete a um livro, a um filme... ai...
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k

samedi 1 mars 2008

Insônia e a cratera de Pingualuit

4h20 da manha, nao consigo mais dormir e acordo pra tomar um café. Fazia tempo que algo assim acontecia... a ultima vez foi fevereiro passado.
Quando nao da pra dormir a pior coisa é ficar na cama virando de um lado pro outro... Milhões de coisas passando pela cabeça, e nada de sono.
Eu me lembrei de um texto do Ginzburg nos Andarilhos do Bem e fiquei pensando que fazer história é muito muito legal, e que exige uma dedicação sem fim... e esse pensamento engatou em outro que foi parar na minha mae me dando as primeiras aulas de historia, no caso o da inconfidência mineira. Ela me mostrava fotos do seu diário de quando esteve em Minas e com isso o meu livro de historia deixava de ser ficção pra virar realidade, eu me sentia mesmo um agente histórico (ta, eu tenho uma imaginação que v
ai alem da conta...).
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Ai logo em seguida eu me lembrei que ontem, enquanto o Baby Boom lavava a louça, conversávamos sobre a revolução Tranqüila aqui no Quebec e também sobre o Período Duplessi, que, a grosso modo, nao deixava os francesinhos irem pra escola, ou pra universidade... e foi nesse contexto que surgiu a UQAM (que esta meio falida hoje em dia, segundo o fernando, como também esta falido a idéia de bem estar social...). Enfim... gente com insônia pensa muito desconectado...
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Acho que nas ferias eu gostaria de visitar a cratera de
Pingualuit, que fica em Nunavik... Mas o guillaume disse que é meio que no meio do nada...
mas é muito bonito...
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K